terça-feira, 3 de julho de 2012

Entrevista para o Jornal Armação dos Búzios em 05 de fevereiro de 2005


Secretário de Cultura diz que só vai progredir a cidade que preservar a sua memória

Vários pensadores já explicaram por que algumas cidades vencem etapas e avançam e outras permanecem no atraso. Para Luiz Romano de Souza Lorenzi, secretário de Cultura de Armação dos Búzios, as cidades progridem quando seus governantes se guiam por duas preocupações essenciais e determinantes. Uma delas é garantir a preservação da memória. A outra é fortalecer sua auto-estima. Associadas estreitamente, uma e outra asseguram a qualidade de uma cidade que se dedica a promover o bem-estar do homem.
Para este filho de mãe buziana e pai argentino, que mantém na cabeceira o livro autobiográfico "Cruzando o limiar da esperança" do Papa João Paulo II, o resgate da identidade e a formação moral de um povo são fatores de desenvolvimento tão importantes quanto às riquezas naturais ou o clima favorável.
No último ano de fisioterapia, solteiro e com 26 anos, Romano lamenta o papel invasivo da televisão e defende o redescobrimento do papel da família. Não ao acaso, revela sua predileção pelo filme "O óleo de Lorenzo", que conta a história verídica de um médico que diagnostica uma doença rara numa criança, dando-lhe não mais do que dois anos de vida, o que faz com que os pais se dediquem a pesquisar o mal que acomete o filho.
Para este buziano que ainda pretende estudar medicina e acredita que a frase do compositor Geraldo Vandré - "Quem sabe faz a hora não espera acontecer"-, encerra um sentido completo, a única chance que as cidades tem para dar um salto é reconhecendo o valor do cidadão: "É hora da gente valorizar o que a gente tem de melhor, que é o nosso povo. Isso é inquestionável", reflete o secretário, que já se encarrega de elaborar um projeto social a ser apresentado no próximo dia 23 no Ministério da Cultura, em Brasília.

Jornal Armação dos Búzios - O governo Lula tem insistido muito na autoestima dos brasileiros, afirmando que o melhor do Brasil é o brasileiro. Qual a sua opinião acerca do investimento na valorização do povo?


Acredito muito nisso. É hora da gente valorizar o que a gente tem de melhor, que é o nosso povo. Isso é inquestionável. Em Búzios a Secretaria de Cultura tem como base o resgate da identidade buziana. Se não amarmos o nosso povo, a gente não ama mais nada. Tem que amar as nossas origens respeitar as nossas origens respeitar as nossas origens e acima de tudo aprender com elas. O governo Lula está de parabéns em aprender e ensinar a respeitar o brasileiro.

Muitos críticos dizem que o Brasil pulou da comunicação verbal das indígenas para a comunicação verbal da televisão, que não tivemos uma fase letrada dessa comunicação. Você acha que o brasileiro lê pouco?


Muito pouco. Infelizmente. Mas a culpa não é nossa. Culpo as autoridades e também a nossa própria história. A gente sabe que os jesuítas quando chegaram ao nosso país eram os cultos da época e foram expulsos. Então, a gente paga esse preço. Quando vieram os portugueses e os holandeses, não vieram os melhores, os intelectuais. A história prova isso. Mas graças a Deus aprendemos muito com os nossos índios, isso é inquestionável. Os índios tem um papel importantíssimo na história do nosso país e na formação do caráter brasileiro. É lamentável ver que hoje a televisão ocupa um papel na família que é um papel de orientadora, de amiga. A vida hoje gira em torno da televisão, e há vinte anos atrás girava em torno da família. Temos que mudar esse conceito. É hora da família se reencontrar. Mas como vamos nos reencontrar  se tem uma máquina dentro da nossa casa que fala mais do que o pai, a mãe e os filhos? Vejo que é época de rever os valores, e a família é muito importante para a sociedade.

O Ministro da Cultura, Gilberto Gil, afirmou que a gestão dele será marcada pelo apoio à preservação da memória. Você pretende preservar a memória de Búzios. De que forma?


Com certeza. O resgate da identidade buziana é importantíssimo. Existem momentos na nossa história que teremos que reconstruir, o que é muito triste. O compromisso do atual prefeito com a cultura é enorme. Ele deu o prédio da antiga prefeitura para a Secretaria de Cultura e a partir de julho estaremos lá. Estamos trabalhando em cima do tombamento dos prédios antigos e em cima dos sambaquis, que são os vestígios arqueológicos indígenas que iremos catalogar, e acima de tudo estamos trabalhando com o popular. Vamos dar continuidade ao projeto Imagem e Som, catalogando e registrando em vídeo as pessoas mais antigas de Búzios. Precisamos guardar a bossa memória.

Quais são os projetos para a Secretaria?


Temos como objetivo das continuidade a todos os projetos da antiga administração que tiveram bom resultado. Iremos continuar com a escola de circo, teatro, com a escola de música Villa-Lobos. Infelizmente em decorrência do orçamento não podemos dar continuidade a todos os projetos porque também tenho os meus projetos, os meus sonhos. Então, o que eu fiz? Escolhi os melhores projetos, com maior aceitação. Um exemplo muito importante do resgate da nossa identidade é a oficina de rede, de tarrafa. Essa oficina tem que continuar, porque é uma oficina que mostra ao povo o nosso artesanato. A partir de julho estaremos com todas as nossas oficinas.

E tem verba suficiente para isso?

Nós estamos reativando a Fundação Cultural, o que é muito importante. A fundação tem o poder de captar recursos e a Secretaria de Cultura não. Existe uma burocracia enorme para receber verbas de empresas privadas para o governo e, sendo uma Fundação Cultural, poderemos captar recursos através dos projetos. Estamos elaborando o projeto de uma lona itinerante, para levar cultura à periferia. Estou indo à Brasília, dia 23 de fevereiro, para apresentar esse projeto ao Ministério da Cultura. Queremos também criar uma lona para a escola municipal de circo.  Podemos captar recursos junto às grandes empresas, que querem investir na qualidade e na formação moral do povo. E é por isso que estaremos lutando.

Qual o maior sonho que você deseja ver realizado na Secretaria de Cultura?


É a construção do Museus do Pescador. Por ser neto de pescador é uma dívida com a minha família. A partir do próximo ano estaremos trabalhando 24 horas em função desse museu que tem tudo para ser uma atração turística e, acima de tudo, elevar a estima do buziano, que está abalada. O censo mostra que de nativos buzianos somos 35%, a minoria, que eu sou filho de buziana e o meu pai é argentino, com  35 anos de Búzios. Mas o que aconteceu com Búzios é diferente do que aconteceu com Parati que conseguiu se estruturar, organizar sua identidade e depois se abriu para o mundo, então a identidade do pescador, a história dos índios tamoios e tupinambás, das lavadeiras, dos agricultores, não foi preservada. E o Museus do Pescador tem esse objetivo, sanar essa dívida que temos com nossa comunidade.

Ouvi certa vez um político dizendo - "Não farei críticas à gestão passada, não porque não mereça ou tenha medo. Prefiro não criticar agora e ver se faço melhor". Você concorda?


Plenamente. Até mesmo porque tenho um carinho especial pelo Toninho Português, o antigo Secretário de Cultura. Não faço críticas à pessoa dele porque sei que ele deu o máximo de si. Lamento profundamente que ele não teve sorte com a equipe. Eu tenho sorte com a minha equipe, pude escolher cada pessoa e isso é muito importante, o prefeito me deu essa liberdade. O Toninho Português é meu amigo, uma pessoa que eu converso muito e soube antes mesmo da minha mãe que eu seria secretário de Cultura. Para você ver o carinho que tenho pelo Toninho, uma pessoa que eu gosto muito, muito.

Bem, eu também. Existe alguma previsão para o tão aguardado teatro de Búzios?


Já estamos com o projeto.

Do Cláudio Bernardes?


Sim. Do Cláudio Bernardes. O Mário, que foi presidente da Fundação Cultural, que é um grande amigo também, já me passou todas as plantas. Estou esperando passar o carnaval para sentar com o Otavinho, Secretário de Planejamento, e ver se o projeto está dentro da lei. Até porque seria contraditório a Secretaria de Cultura, que luta por preservar a identidade da cidade, construir algo que viesse a ferir toda essa identidade arquitetônica da cidade. Mas pelo que eu pude ver, é um projeto maravilhoso que não fere i estilo Búzios.

A intenção é solicitar ao prefeito verba para isso ou buscar junto a iniciativa privada?


Com a Fundação Cultural será muito mais fácil porque estaremos captando recursos. Mas o prefeito está a disposição da Secretaria de Cultura. Provavelmente sou o secretário que mais frequenta o gabinete do prefeito, e todas as vezes que eu vou lá, eu sou bem recebido e saio de lá feliz porque ele está sempre a disposição da Secretaria de Cultura. Com certeza, o prefeito vai se empenhar ao máximo para construir esse teatro tão aguardado.




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